Trump Demite Diretora do Fed em Decisão Histórica

Presidente americano cumpre ameaça e destituí Lisa Cook com efeito imediato, alegando fraude hipotecária em meio a pressões por cortes nas taxas de juros

O presidente americano Donald Trump cumpriu a ameaça feita há dias e demitiu na segunda-feira (25) a diretora do Federal Reserve Lisa Cook, primeira mulher negra a integrar o Conselho de Governadores do banco central americano. A decisão foi anunciada por meio de carta publicada na Truth Social e representa um marco histórico, sendo o primeiro caso de um presidente americano demitindo um membro do conselho desde a criação do Fed em 1913.

Na justificativa para a demissão com efeito imediato, Trump alegou que Cook teria cometido fraude hipotecária ao declarar simultaneamente dois imóveis – um em Michigan e outro na Geórgia – como sua residência principal no mesmo período. “É inconcebível que você não estivesse ciente do primeiro compromisso ao fazer o segundo”, afirmou o presidente na carta divulgada.

O caso ganhou corpo após denúncia criminal apresentada por William Pulte, diretor da Agência Federal de Financiamento Habitacional, ao Departamento de Justiça americano. Trump sustentou que os americanos “têm o direito de confiar plenamente na honestidade dos membros encarregados de definir políticas e supervisionar o Federal Reserve” e que, diante da “conduta enganosa e potencialmente criminosa”, não poderia manter confiança na integridade de Cook.

Contexto histórico e jurídico da demissão

A demissão de Lisa Cook marca um episódio inédito na história do Federal Reserve, criado em 1913 como banco central independente dos Estados Unidos. Cook foi nomeada em 2022 pelo então presidente Joe Biden para um mandato que se estenderia até 2038, tornando-se a primeira mulher negra a ocupar o cargo de diretora do Fed. Sua saída pode acelerar os planos de reformulação do banco central por parte de Trump, que já havia manifestado críticas à condução da política monetária.

Base legal da decisão presidencial

Trump fundamentou a demissão no Artigo II da Constituição americana e na Lei do Federal Reserve de 1913, que estabelece que a remoção de um governador só pode ocorrer “por justa causa”. A legislação define três possibilidades para tal medida: ineficiência, negligência no dever e má conduta no cargo. O presidente argumentou que a suposta fraude hipotecária se enquadra na categoria de má conduta, demonstrando “negligência grave em transações financeiras” que comprometeria a competência como reguladora.

Reação de Cook e impasse institucional

Lisa Cook havia antecipado a pressão dois dias antes da demissão, declarando que “não tinha intenção de ser intimidada a deixar a posição por causa de questionamentos levantados em um tuíte”. A economista negou as acusações e sinalizou que não renunciaria voluntariamente, o que transformou a situação em confronto direto entre o Executivo e o Fed. A postura de resistência pode levar o caso à Suprema Corte, configurando uma disputa judicial sem precedentes sobre a autonomia do banco central.

Pressão sobre Jerome Powell e política monetária

A demissão de Cook ocorre em meio às constantes críticas de Trump ao presidente do Fed, Jerome Powell, a quem já chamou de “idiota” que faz “um péssimo trabalho”. O presidente americano vem pressionando por reduções nas taxas de juros, atualmente mantidas na faixa de 4,25% a 4,50%. Em julho, Trump chegou a cogitar processar Powell pelo Departamento de Justiça, alegando gastos excessivos com reformas nos prédios do Fed. Powell sinalizou na sexta-feira (22) que cortes poderão ocorrer nos próximos meses.

Composição atual do conselho do Fed

Com a saída de Cook, o conselho de sete membros do Federal Reserve fica ainda mais alinhado às indicações de Trump. Atualmente, dois membros – Christopher Waller e Michelle Bowman – foram nomeados pelo presidente republicano. Uma terceira vaga foi aberta com a saída de Adriana Kugler, e Trump já indicou Stephen Miran, presidente do Conselho de Assessores Econômicos, para ocupar o posto. A reformulação permite ao presidente ampliar sua influência sobre as decisões de política monetária.

Impacto nos mercados e credibilidade institucional

Para analistas consultados pela imprensa especializada, a demissão eleva o risco político nos Estados Unidos e compromete a confiança do mercado na autonomia do banco central. Democratas classificaram a medida como ataque à credibilidade institucional, enquanto aliados de Trump defenderam maior rigor na regulação bancária. O episódio reacende o debate sobre a independência do Federal Reserve, pilar fundamental do sistema financeiro americano desde sua criação.

Reflexos globais da decisão

A fragilização da estabilidade financeira americana pode gerar reflexos nos mercados globais, segundo especialistas. A saída de Cook também representa retrocesso simbólico para a diversidade no Fed, onde sua nomeação havia sido marco histórico. O embate entre Trump e o banco central americano ocorre em momento de extrema instabilidade econômica mundial, com guerras em andamento e ameaças de disputas comerciais entre grandes potências.