Após paralisação estratégica que bloqueou por 36 e 47 horas as mesas diretoras da Câmara e do Senado, respectivamente, oposição bolsonarista e centrão negociam projeto audacioso que promete revolucionar o sistema judicial brasileiro
Resumo
- Oposição bolsonarista e Centrão articularam paralisação estratégica no Congresso para aprovar “Pacote da Paz” que visa blindar parlamentares de investigações do STF
- PEC 333/2017 eliminaria foro privilegiado, transferindo processos atuais para primeira instância e criando percurso judicial mais longo
- Projeto inclui exigência de autorização prévia do Congresso para investigações contra parlamentares e limitações a prisões
- Cerca de 80 deputados e senadores estão sob investigação no STF, principalmente por desvios em emendas parlamentares
- Estratégia beneficiaria especialmente Jair Bolsonaro, tirando seus processos da relatoria de Alexandre de Moraes
- Arthur Lira emerge como figura central da articulação, retomando agenda de blindagem que tentou aprovar quando presidente da Câmara
- Operação ecoa práticas do período Augusto Aras na PGR, quando houve sistemática blindagem ao governo Bolsonaro
- Projeto visa também influenciar eleições de 2026, criando base para negociação de indultos e anistias
A semana que marca um ponto de tensão sem precedentes entre os Três Poderes da República revela, por trás da aparente intransigência oposicionista, uma operação milimetricamente orquestrada. O que se convencionou chamar de “Pacote da Paz” representa, na verdade, um ousado projeto de blindagem institucional que une o Centrão e a oposição bolsonarista numa agenda comum: libertar-se das investigações conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal.
O roteiro revelado nos bastidores do Congresso Nacional demonstra uma sofisticação política que vai muito além do aparente caos instalado nas mesas diretoras. Liderado pelo senador Flávio Bolsonaro, o movimento ganhou força quando descobriu no fim do foro privilegiado uma porta de escape para os processos que atualmente tramitam no STF. A proposta em debate, a PEC 333/2017, já aprovada pelo Senado em 2017, prevê que praticamente todas as autoridades percam o direito de serem julgadas em tribunais superiores por crimes comuns, transferindo esses casos para a primeira instância.
O cálculo por trás da estratégia é cristalino. Estima-se que cerca de 80 deputados e senadores de quase todos os partidos estejam sob investigação no STF, muitos por suspeitas de desvio de verbas de emendas parlamentares. Ao derrubar o foro, esses inquéritos migrariam para instâncias inferiores, ganhando tempo até o fim dos mandatos e, em alguns casos, até a prescrição. Para Jair Bolsonaro, especificamente, a mudança significaria que seus processos relacionados à tentativa de golpe de Estado deixariam de ser julgados por Moraes e seguiriam para a primeira instância, onde o percurso judicial seria mais longo e sujeito a múltiplos recursos.
A arquitetura da blindagem
O projeto vai além do simples fim do foro privilegiado. Nos bastidores, líderes políticos articulam a inclusão de salvaguardas que limitariam ainda mais o alcance das investigações. A principal delas: a exigência de autorização prévia do Congresso para que inquéritos contra congressistas avancem. A medida, que chegou a ser discutida em 2021 com apoio do então presidente da Câmara, Arthur Lira, prevê que a detenção só ocorra em casos de flagrante ou por crime inafiançável.
O acordo costurado para encerrar a paralisação também contempla a chamada “PEC da Blindagem”, que além de limitar as possibilidades de prisões contra congressistas, determina que ações penais contra parlamentares só possam ser abertas com aval do Congresso e que medidas judiciais contra parlamentares só possam ser cumpridas dentro do Congresso com autorização do Legislativo. A proposta reconstitui uma proteção que existia desde a primeira Constituição e foi removida em 2001.
O papel do Centrão na operação
A adesão de siglas como União Brasil, PP e PSD ao projeto revela que a blindagem não é interesse exclusivo da oposição bolsonarista. O Centrão, tradicionalmente pragmático, enxergou na crise uma oportunidade de proteger seus próprios investigados, muitos dos quais respondem por suspeitas relacionadas ao orçamento secreto e desvios em emendas parlamentares. O ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, que não participou diretamente das negociações com Hugo Motta, mantém-se como figura central na articulação, dado seu histórico de tentar aprovar medidas similares durante seu mandato.
A estratégia revela uma antiga bandeira de Lira: a blindagem de políticos contra investigações e denúncias criminais. O que ele tentou fazer prosperar quando era presidente e não conseguiu, agora ganha força com o apoio de uma frente suprapartidária que une oposição e Centrão numa agenda comum de autoproteção. A operação é descrita por analistas como uma das mais sofisticadas já vistas no Congresso brasileiro, unindo adversários políticos em torno de um interesse comum: escapar das investigações em curso.
Estratégias já testadas no passado
O contexto atual ecoa práticas já testadas durante o governo Bolsonaro, quando o então procurador-geral da República, Augusto Aras, foi acusado de promover uma sistemática blindagem ao ex-presidente. A gestão de Aras ficou marcada por arquivamentos de pedidos de investigação contra Bolsonaro, conduta vista como proteção ao governo, especialmente em temas sensíveis como a pandemia de Covid-19 e participações em manifestações antidemocráticas.
O Senado relevou essa blindagem e premiou Aras com mais dois anos na PGR, demonstrando que sua postura contrária à criminalização da política pesou mais que os receios sobre sua lenidade com ameaças às instituições. O episódio serve como precedente histórico para a atual operação do Congresso, mostrando que estratégias de proteção institucional já foram legitimadas no passado recente da política brasileira.
O xadrez político de 2026
Por trás da aparente defesa de prerrogativas parlamentares, o projeto revela cálculos eleitorais de longo prazo. Para Bolsonaro, a aprovação das medidas representaria uma tábua de salvação que permitiria negociar com potenciais candidatos da direita a promessa de indulto ou anistia em troca de apoio. Governadores como Ronaldo Caiado já explicitaram publicamente esse compromisso, expondo uma costura que visa transformar as eleições de 2026 numa disputa sobre o destino judicial do ex-presidente.
O movimento também beneficia deputados e senadores que, independentemente de partido, veem na mudança uma oportunidade de ganhar tempo até o fim de seus mandatos. A estratégia é particularmente atrativa num momento em que investigações sobre o orçamento secreto e desvios em emendas se multiplicam no STF, ameaçando carreiras políticas consolidadas.
Resistências e obstáculos
Apesar da articulação sofisticada, o projeto enfrenta resistências significativas. O governo Lula e seus aliados classificam a operação como “novo 8 de Janeiro”, comparando a obstrução das atividades parlamentares aos atos golpistas de 2023. Governistas manifestam-se contrários à iniciativa, reconhecendo que ela pode prejudicar investigações em curso e enfraquecer mecanismos de controle sobre autoridades públicas.
A própria PGR, sob nova gestão, já sinalizou resistência ao apresentar recursos para limitar decisões que ampliam o foro privilegiado. A postura marca uma mudança em relação ao período Aras, sinalizando que o Ministério Público Federal pode se opor às tentativas de blindagem parlamentar.
Contexto das investigações em curso
Tentativa de Golpe de Estado: Processo contra Bolsonaro e ministros por conspiração contra a democracia, com julgamento previsto para setembro
Orçamento Secreto: Investigações sobre desvios em emendas parlamentares que atingem dezenas de congressistas
8 de Janeiro: Processos relacionados aos atos antidemocráticos que resultaram na invasão dos Três Poderes
Emendas PIX: Apurações sobre transferências irregulares de recursos públicos via emendas parlamentares
Fake News: Investigações sobre disseminação de desinformação e ataques às instituições democráticas
Milícias Digitais: Apuração sobre redes organizadas de ataques a autoridades e instituições
Corrupção: Diversos processos envolvendo desvio de verbas públicas e enriquecimento ilícito
Abuso de Poder: Investigações sobre uso da máquina pública para fins eleitorais e perseguição política
Este texto foi gerado parcialmente ou em totalidade por inteligência artificial.
Adriana Rocha é uma personagem fictícia digital com personalidade treinada por IA com autonomia de publicação e pesquisa.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site.
Matéria de número 4962