Bolsonaro Domina Direita Como Gado e Impede Renovação

Ex-presidente condiciona apoio político a submissão completa e interdita campo da direita enquanto negocia indultos em troca de candidaturas

A direita brasileira emergiu do armário político com a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, mas desde então demonstra incapacidade crônica de se livrar de sua tutela autoritária. Mesmo após a derrota histórica nas urnas e os crescentes problemas judiciais do ex-presidente, o movimento conservador permanece subjugado às vontades do capitão reformado, que trata aliados e eleitores como gado político.

O comportamento de Bolsonaro não surpreende, considerando sua conduta historicamente autoritária na vida pública. O que causa espanto é a submissão voluntária de políticos eleitos democraticamente a esse jugo que nem faz sentido estratégico nem representa condição determinante para o futuro eleitoral. Governadores do campo ideológico bolsonarista mal ensaiaram conversas sobre uma candidatura única da direita para 2026 quando o ex-presidente pulou na frente para interditar o campo, declarando que o candidato deve ser ele ou alguém de sua família por ele designado.

Filhotismo e Controle Familiar no Centro da Estratégia

O filhotismo representa uma das características mais marcantes do bolsonarismo desde que Jair lançou o filho Carlos, então menor de idade, para enfrentar a própria mãe na disputa pela vereança carioca. Na época, a ex-esposa já divorciada tinha cometido a “audácia” de considerar que o mandato lhe pertencia e pleiteava a reeleição. Essa forma desrespeitosa de tratamento se estende a todos aqueles que Bolsonaro ajudou a impulsionar politicamente, marcando-os a ferro como propriedade perpétua do clã.

Chantagem por Indulto Define Sucessão

Ainda que governadores reconheçam reservadamente a boa chance de um candidato de centro-direita vencer Lula em 2026, ninguém ousa enfrentar Bolsonaro quando ele “estrila”. A prioridade do ex-presidente, hoje inelegível e réu no processo da trama golpista, não é a vitória de alguém de seu campo ideológico. Seu interesse real está condicionado ao comprometimento explícito do ungido com papel passado garantindo indulto para Bolsonaro e seus aliados.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, expôs publicamente essa costura em plena Nova York, antecipando uma negociação que já circulava nos bastidores há mais de um mês. Os que não são tão explícitos sobre o indulto recebem de Bolsonaro o castigo das ameaças, como uma chapa pura do clã para travar a disputa e atrasar o avanço da fila sucessória.

Direita Acéfala Teme Rompimento

Caciques que reverenciam Bolsonaro em público, mas adorariam ver essa página virada, andaram cabisbaixos pelas avenidas nova-iorquinas após o ultimato do capitão. Sem coragem para romper o jugo, fazem o complicado cálculo de que seria melhor se Lula recuperasse popularidade para chegar competitivo em 2026. Essa estratégia daria menos cacife a Bolsonaro para dar as cartas da direita, já que uma nova vitória petista enterraria toda a indecente costura por indulto, anistia ou qualquer socorro aos que tramaram contra a democracia.

Contexto Histórico da Tutela Bolsonarista

• Ascensão em 2018: A direita brasileira ganhou corpo graças à arrancada eleitoral de Bolsonaro, saindo definitivamente do armário político após décadas de predominância de centro-esquerda
• Derrota inédita: Bolsonaro se tornou o primeiro presidente em exercício a perder uma reeleição na Nova República, mas manteve controle sobre o movimento
• Debacle judicial: Processos criminais e inelegibilidade não diminuíram a influência do ex-presidente sobre correligionários
• Trama golpista: Investigações da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal confirmaram tentativas de ruptura democrática envolvendo o núcleo bolsonarista
• Fragmentação da oposição: Centro político superlotado mas acéfalo, sem liderança capaz de unificar alternativa viável ao petismo

Lideranças Submissas e Cálculo Eleitoral

• Governadores aliados: Figuras como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e outros mandatários estaduais evitam confronto direto com Bolsonaro
• Congresso Nacional: Bancadas conservadoras mantêm fidelidade retórica ao ex-presidente mesmo discordando privadamente
• Empresariado: Setor produtivo busca alternativas mas teme represálias da base bolsonarista radicalizada
• Militares: Oficiais da reserva permanecem alinhados com narrativas golpistas e teorias conspiratórias
• Base evangélica: Lideranças religiosas conservadoras seguem pregando apoio incondicional ao “mito”

Impacto na Democracia e Futuro Político

A indigência da política brasileira fica evidente em episódios como esse, mas não é exclusividade da direita submissa a Bolsonaro. O país convive com lideranças personalistas em maior ou menor grau de declínio, mas sem coragem de romper tutelas prejudiciais ao processo democrático. A direita e esquerda brasileiras seguem atreladas a figuras que não conseguem renovar o debate público nem oferecer alternativas consistentes para os desafios nacionais.