Haddad: EUA Exigem Solução Impossível Para Tarifaço

Impasse Institucional Paralisa Negociações Comerciais

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira que as negociações sobre as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros estão travadas porque o governo norte-americano exige uma solução “constitucionalmente impossível”. Em evento organizado pelo Financial Times e CNBC em São Paulo, Haddad explicou que os EUA querem que o Executivo brasileiro interfira em assuntos do Poder Judiciário, especificamente nos processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Reunião Cancelada Expôs Má Vontade Americana

O ministro revelou detalhes do cancelamento da reunião virtual que estava marcada com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, na semana passada. Segundo Haddad, ele já esperava que o encontro fosse cancelado após sua divulgação, devido às pressões da extrema-direita brasileira nos Estados Unidos. “Há uma má vontade partindo dos Estados Unidos”, declarou, enfatizando que nunca cometeria uma “deselegância” de cancelar um compromisso com autoridade estrangeira.

Comércio Bilateral em Queda Livre

Durante sua participação no seminário “Brazil 2030”, Haddad revelou que o comércio entre Brasil e Estados Unidos representa hoje menos da metade do registrado nos anos 1980 e tende a cair ainda mais. “Pelo andar dos acontecimentos, eu acredito que o comércio bilateral, infelizmente, vai cair ainda mais”, afirmou o ministro, destacando que o Brasil “fez sua parte” nas negociações e que para saber o que virá pela frente é preciso “perguntar do lado de lá”.

• Contexto Histórico das Relações Comerciais Brasil-EUA: As relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos passaram por diversas fases ao longo da história. Nos anos 1980, o comércio bilateral atingiu seu auge, mas desde então vem apresentando declínio gradual. A corrente de comércio atual representa menos da metade daquele período, evidenciando um distanciamento econômico progressivo entre as duas maiores economias das Américas.
• Tarifaço de Trump: Em julho de 2025, o presidente Donald Trump anunciou a imposição de tarifas de 50% sobre uma série de produtos brasileiros, alegando que o ex-presidente Jair Bolsonaro sofre uma “caça às bruxas” pelo Judiciário brasileiro. A medida afeta cerca de 700 produtos, embora alguns setores tenham conseguido exceções, representando cerca de 43% dos valores exportados para os EUA.
• Scott Bessent: Secretário do Tesouro dos Estados Unidos na administração Trump, Bessent teve um encontro “excelente” com Haddad em maio de 2025, antes do anúncio das tarifas. O próprio ministro brasileiro questionou “o que mudou de maio para julho” nas relações entre os dois países, destacando a deterioração das negociações.
• Separação dos Poderes: O impasse central nas negociações refere-se ao princípio constitucional da separação dos poderes. Os EUA exigem que o Executivo brasileiro interfira em decisões do Poder Judiciário relacionadas aos processos contra Bolsonaro, o que é constitucionalmente impossível no sistema democrático brasileiro.
• Mauro Vieira e Diplomacia: O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, tem trabalhado intensamente para estabelecer canais de diálogo com a Casa Branca. Segundo Haddad, Vieira viajou aos Estados Unidos sem audiência marcada e foi recebido pelo secretário de Estado Marco Rubio, que informou não haver espaço para mudanças no momento.
• Minerais Críticos e Terras Raras: Uma possível saída para as negociações envolve acordos sobre minerais críticos e terras raras, essenciais para a produção de baterias elétricas e processadores de inteligência artificial. Haddad destacou que os Estados Unidos não são ricos nesses minerais e que acordos de cooperação poderiam beneficiar ambos os países.
• Pacote de Medidas de Apoio: O governo brasileiro elaborou um conjunto de medidas extraordinárias para apoiar empresas afetadas pelas tarifas, incluindo linhas especiais de crédito e apoio em compras governamentais. Segundo Haddad, tratam-se de ações específicas e temporárias para os problemas mapeados.
• Marco Rubio: Secretário de Estado dos Estados Unidos, Rubio recebeu o chanceler brasileiro Mauro Vieira, mas sinalizou que não há espaço para mudanças na política de tarifas no momento atual, demonstrando a rigidez da posição americana.
• Extrema-Direita e Pressões Políticas: Haddad revelou que a extrema-direita brasileira se mobilizou nos Estados Unidos para pressionar contra as negociações, contribuindo para o cancelamento da reunião entre ele e Bessent. Essa interferência política tem complicado os esforços diplomáticos.
• Globalização em Xeque: O ministro brasileiro avaliou que Trump luta contra a globalização antes defendida pelos próprios Estados Unidos. “Quando eles perceberam que ganharam muito, mas a China ganhou mais, decidiram melar o jogo”, analisou Haddad sobre a mudança de estratégia americana.