Eduardo Bolsonaro sabota senadores e exige anistia

Deputado federal declara abertamente que trabalha para impedir negociações sobre tarifas de Trump e exige anistia para condenados do 8 de Janeiro como condição única para diálogo

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) assumiu publicamente na segunda-feira (28) que atua para sabotar a missão de senadores brasileiros nos Estados Unidos, impedindo qualquer possibilidade de diálogo sobre as tarifas de 50% impostas pelo presidente Donald Trump aos produtos brasileiros. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro foi categórico ao declarar: “Eu trabalho para que eles não encontrem diálogo”.

A declaração bombástica ocorre no momento em que uma comitiva suprapartidária de oito senadores brasileiros está em Washington tentando negociar com empresários e congressistas americanos para reverter ou adiar as tarifas que entraram em vigor em 1º de agosto. Eduardo, que se encontra em “autoexílio” nos EUA, justifica sua sabotagem alegando que a questão das tarifas é política, não comercial, e que qualquer negociação deve passar obrigatoriamente pela anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

O deputado licenciado qualificou a iniciativa parlamentar como um “desrespeito” e afirmou que está “fadada ao insucesso”. Para Eduardo, as tentativas dos senadores apenas “prolongam o sacrifício dos brasileiros” ao ignorar o que considera o cerne da questão: a suposta perseguição política contra seu pai e aliados por parte do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. “Essa comitiva ignora a questão mais básica, que é a questão da crise institucional”, disparou.

Senadores denunciam sabotagem nacional

A comitiva brasileira, liderada pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), reuniu parlamentares de diferentes espectros políticos em uma missão declaradamente suprapartidária e institucional. Entre os integrantes estão tanto o líder do governo Lula no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), quanto ex-ministros do governo Bolsonaro como Tereza Cristina (PP-MS) e Astronauta Marcos Pontes (PL-SP).

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) foi direto ao classificar a atuação de Eduardo: “Eduardo Bolsonaro está cumprindo o papel de sabotar os interesses nacionais. Ele transforma uma medida tarifária em chantagem política contra a economia, contra os empregos, contra a vida do povo brasileiro”. Já Nelsinho Trad declarou que não entraria em “bate-boca” com as críticas do deputado.

A agenda da comitiva incluiu reuniões com a Câmara Americana de Comércio, encontros fechados com parlamentares democratas e republicanos no Capitólio, além de conversas com representantes da Americas Society/Council of the Americas. Eduardo, contudo, trabalha ativamente para que o grupo não seja recebido por autoridades da administração Trump.

Chantagem política com economia nacional

Eduardo Bolsonaro defendeu que não pode haver “meio termo” nas negociações e reafirmou sua posição radical: “Eu trabalho para que eles não encontrem diálogo, porque eu sei que, vindo desse tipo de pessoa, só virão acordos desse tipo meio-termo, que não é nem certo nem errado”. O deputado volta a colocar a anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro como condição sine qua non para qualquer avanço diplomático.

Para o filho de Bolsonaro, as tarifas de Trump decorrem de uma “reação” às supostas “violações de direitos” e “perseguições” contra seu pai e aliados no Brasil. Ele chegou a afirmar que Alexandre de Moraes “encontrou em Trump um adversário à altura”, transformando uma questão comercial bilateral em confronto pessoal entre autoridades.

As declarações de Eduardo geraram críticas até dentro do próprio PL, partido do qual faz parte, com integrantes discordando da postura adotada pelo parlamentar. O deputado já enfrenta múltiplas ações no Congresso por supostos crimes contra a soberania nacional, mas segue escalando o tom das provocações desde os Estados Unidos.

Contexto das tarifas e impacto econômico

Histórico das medidas tarifárias:

• Donald Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros através de sua rede social Truth Social
• A medida entrou em vigor em 1º de agosto de 2025, impactando diretamente as exportações brasileiras
• O presidente americano justificou a decisão relacionando-a à suposta “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro
• As tarifas afetam diversos setores da economia brasileira, desde agronegócio até produtos industrializados

Composição da comitiva senatorial:

• Nelsinho Trad (PSD-MS) – presidente da missão
• Jaques Wagner (PT-BA) – líder do governo Lula no Senado
• Rogério Carvalho (PT-SE) – líder da bancada petista
• Tereza Cristina (PP-MS) – ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro
• Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) – ex-ministro da Ciência e Tecnologia de Bolsonaro
• Carlos Viana (Podemos-MG)
• Fernando Farias (MDB-AL)
• Esperidião Amin (PP-SC)

Agenda diplomática nos EUA:

• Reuniões com a U.S. Chamber of Commerce, maior organização empresarial mundial
• Encontros fechados com parlamentares democratas e republicanos no Capitólio
• Conversas com representantes da Americas Society/Council of the Americas
• Diálogos com juristas, economistas e lideranças políticas americanas
• Custo da missão já ultrapassou R$ 500 mil dos cofres públicos

Precedentes diplomáticos:

• Eduardo Bolsonaro já havia bloqueado o acesso da embaixadora Maria Luiza Viotti a representantes da Casa Branca
• O deputado pediu licença do mandato para morar nos Estados Unidos
• Em situações anteriores, Eduardo admitiu ter solicitado sanções contra o Brasil ao governo americano
• As ações do deputado configuram precedente inédito de sabotagem diplomática por parlamentar brasileiro

Repercussões políticas internas:

• Críticas de senadores de diversos partidos à postura de Eduardo Bolsonaro
• Divisão dentro do próprio PL sobre a estratégia adotada pelo deputado
• Múltiplas ações tramitando no Congresso contra Eduardo por crimes contra soberania nacional
• Questionamentos sobre a eficácia de transformar questões comerciais em embates políticos
• Debate sobre os limites éticos da atuação parlamentar em território estrangeiro